Carta Aberta a Antonio Virgilio Bastos (e Jairo Borges) sobre as Eleições para o Conselho Federal de Psicologia

Prezado Antonio Virgilio,


Vejo que secundando o seu ex-orientador e companheiro histórico de Psicologia Organizacional Jairo Borges, você ao se engajar na campanha eleitoral da oposição a atual gestão do CFP, utiliza a mesma caracterização através da qual, ele, em uma mensagem difamatória na lista da SBPOT, atribui ao Movimento Um Conselho para Cuidar da Profissão a condição de “um partido político”, afirmação a qual você agrega que “há muitos anos leva adiante uma proposta que exclui parte significativa dos vários campos de atuação da psicologia”

Certamente, o simples fato de você se alinhar com a oposição à atual direção do CFP não o faria merecedor de distinção especial como eleitor, nem que eu me dirigisse pessoalmente a você, que há quase vinte anos é meu colega no IPSI-UFBA, para polemizar sobre suas escolhas e afirmações. Afinal desde 1995, quando fui seu ultimo presidente eleito indiretamente, os avanços na democratização do CFP pelos quais lutamos, garantiram que a sua direção fosse eleita por todos os psicólogos, através de chapas completas e não apenas pelo Colégio Eleitoral formado pelos presidentes dos Conselhos Regionais, permitindo assim que você e todos os psicólogos tivessem a oportunidade de participarem ativamente como candidatos e eleitores. É essa riqueza da oportunidade democrática conquistada que me exige não deixá-lo sem uma resposta para suas afirmações.

Criado em 1997, o Movimento Um Conselho para Cuidar da Profissão, ao qual você atribui como uma injúria, a condição de ser um Partido, desde então sempre apresentou chapas para concorrer ao Conselho Federal de Psicologia e à direção de vários dos Conselhos Regionais. Em todas essas ocasiões as plataformas de trabalho foram públicas e explicitamente apresentadas e confrontadas com outras propostas existentes logrando obter a aprovação da a maioria dos eleitores com exuberantes votações de dezenas de milhares de votos. Não creio que ao modo de certos intelectuais, defensores da superioridade do ideal platônico do “governo dos sábios” você seja um daqueles que acreditam que “o povo não sabe votar” ( no nosso caso “que os psicólogos não sabem votar”!)

Principalmente porque hoje o CFP tem um Regimento Eleitoral dos mais democráticos que garante grande controle sobre o processo eleitoral, e talvez você desconheça, exigindo desincompatibilizações dos gestores para novas candidaturas; limitando a apenas a uma reeleição em mandatos consecutivos; garantindo igualdade de expressão das chapas nos materiais de divulgação do CFP em todos os seus meios de comunicação; exigindo que as chapas sejam apresentadas na sessão de enceramento final do Congresso Nacional (Regional) da Psicologia que se realiza a cada três anos para definir, com ampla participação de delegados de base, as prioridades que deverão guiar as próximas gestões do Federal e Regionais.

Então quero crer, Antonio Virgilio, que não sendo os psicólogos estúpidos, em varias oportunidades eles se manifestaram positivamente sobre as propostas e métodos de gestão apresentados pelo Movimento Um Conselho para Cuidar da Profissão, confirmando a sua ação como positiva para o desenvolvimento social da Psicologia como uma profissão que tem assim podido extrapolar os seus modelos tradicionais, enfrentando muitos dos dilemas que nos meados da ultima década do século passado paralisavam as ações do CFP. E você há de concordar Antonio Virgilio que a trajetória exitosa dessa política não poderia ser obtida “excluindo parte significativa dos vários campos de atuação da psicologia.”

A razão do sucesso político do Movimento Pra Cuidar da Profissão, Antonio Virgilio, deriva exatamente do contrario do que você afirma; nós somos os responsáveis pela abertura política do Conselho à participação de tantos quantos quiseram levar para o seu interior, sobre a forma de Grupos de Trabalho, Comissões, Projetos, todas as mais diversas questões e temas para que elas fossem debatidas e convertidas em ações. Eu o desafio Antonio Virgilio - para que o debate eleitoral valha a pena e não se converta em mera demagogia de insatisfeitos – que você aponte qual ou quais seriam estas “partes significativas dos vários campos de atuação da psicologia” que se encontrariam excluídas das ações e políticas do CFP nestes últimos anos? De que é que você esta falando????

O Movimento Pra Cuidar da Profissão, que tem dirigido o CFP nestes últimos anos e do qual tenho a honra de ser um dos seus fundadores, representou Antonio Virgilio, exatamente a possibilidade de uma ampla construção coletiva, mobilizadora, aglutinadora, participativa através da organização voluntária e generosa de milhares de psicólogos que querem ver a sua profissão socialmente reconhecida e que se organiza a partir de três princípios muito simples e poderosos : 1) honestidade e transparência na gestão dos recursos públicos, banindo as praticas de corrupção e de oportunismo de tantos que no passado se utilizaram dos recursos do CFP de modo personalístico e aproveitador; 2) Radicalização da democracia institucional em todas as relações: com a categoria através do Congresso Nacional da Psicologia, com os CRPs através da APAF, com a sociedade através da participação em dezenas de organismos de Controle Social das Políticas Publicas, com as entidades da Psicologia Brasileira através do FENPB; 3) Por uma Psicologia com compromisso Social que representa Antonio Virgilio um grande projeto de deselitizar da psicologia brasileira como ciência e profissão, garantindo uma agenda profissional vasta, com foco na empregabilidade, pela via das políticas publicas, ampliando na ação profissional o compromisso com os Direitos Humanos e com a Cidadania.

Efetivamente não somos nem aspiramos ser “um partido” na Psicologia porque construímos este projeto com todos os psicólogos que queiram participar. O espaço da diferença e divergência está institucionalmente garantido para qualquer psicólogo que se apresente. Nunca tive o prazer de ter a sua companhia, por exemplo, no espaço comum, onde todos nos igualamos e nos fazemos iguais, dos nossos Congressos de Base. Alguns porque não dão prioridade e outros porque se acham por demais importantes e superiores para se sentarem lado a lado com seus colegas de profissão e discutirem de igual para igual qual deve ser a política da psicologia no próximo período.

Sabemos que tal condição democrática é incomoda para muitas “personalidades”, mal acostumadas em tempos passados em abusarem da sua autoridade intelectual e a participarem de certos pactos e panelinhas elitistas, da ciência e profissão, onde as decisões sobre o que era o melhor para a Psicologia e a ocupação de cargos nas entidades conferiam distinções. Graças ao Cuidar da Profissão Antonio Virgilio, este tempo passou e não volta mais ! HOJE NINGUEM ESTA AUTORIZADO A FALAR EM NOME DO QUE É MELHOR PARA A PROFISSÃO, se tal construção não for coletiva, democrática, participativa...

E a ironia é que se você analisar bem a plataforma da chapa que você está apoiando você verá que até a oposição tem que afirmar a maior parte da Política Nacional da Psicologia que temos ajudado a construir como o nosso Movimento, como adequada e positiva. E quando pretende inovar Antonio Virgilio só consegue produzir este ridículo apelo ao atraso político que você explicitamente endossa, assumindo o corporativismo rastaquera proposto pelo Rogério Oliveira, como eixo da ação política do CFP.

Antonio Virgilio, como um dos mais reconhecidos psicólogos organizacionais, que acabou de fazer um livro sobre este tema, você sabe que na verdade não vivemos uma deterioração das condições de trabalho dos psicólogos, mas sim um fantástico processo de ampliação da nossa empregabilidade nas políticas publicas – somente no SUAS nos últimos cinco anos foram criados 10.000 novos empregos – e que portanto neste momento o importante é que estamos fazendo uma luta pela institucionalização, invenção, criação, destes novos postos e seus fazeres; que sim ainda tem limitações salariais e de condições de trabalho precárias, que só podem ser enfrentadas com as demais organizações profissionais que fazem parte das equipes multiprofissionais, através das “mesas de negociação”; que o CFP através do CREPOP , que é o Centro de Referencias em Psicologia e Políticas Publicas, vem enfrentando já há mais de três anos a tarefa de produzir coletivamente as referências técnicas e éticas para estes novos exercícios. Ao mesmo tempo vimos promovendo a negociação com os gestores do Estado, junto às organizações das outras categorias que são nossas parceiras nas equipes multiprofissionais, com todo apoio das entidades sindicais dos Psicólogos.

Portanto Antonio Virgilio propor que o CFP assuma (usurpe) as funções das organizações sindicais e passe a “Cuidar dos Psicólogos” ao invés de Cuidar da Profissão é não perceber que esta organização não pertence aos psicólogos, mas antes é mantida por eles como um recurso de mediação das relações desta profissão para com a sociedade, para fazer a defesa de um exercício ético e tecnicamente competente desta profissão. A que agregamos: de forma a reconhecer, dialogar e avançar na direção de uma Psicologia que seja disponível e útil para toda a população, quiçá para aquela mais desprovida de direitos!

A aposta no corporativismo populista Antonio Virgilio pode ter até um bom apelo eleitoral e render alguns votos dos mais desinformados e desavisados, mas efetivamente para responder aos quase 25.000 psicólogos que se formam hoje, a cada ano, e aos 230.000 será preciso política de maior consistência! Nós do Cuidar da Profissão temos buscado um posicionamento estratégico que permita cuidar hoje do futuro da Profissão. Que os nossos colegas no dia 27 de agosto possam avaliar e democraticamente escolher o melhor projeto!

Atenciosamente,

MARCUS VINICIUS DE OLIVEIRA

Ex-presidente CFP 1995,

Ex vice presidente CFP 2005/2007

PROFESSOR ADJUNTO IPSI-UFBA

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